terça-feira, 13 de novembro de 2012

BERLIM DIÁRIO (fechar fronteiras) 12


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Às muitas da manhã faço o balanço. Querido diário, está na altura de te perguntar: para quando finalmente o repouso? Para quando o fim destas linhas que teimam em não acabar? Será que vou em breve deixar de me sentir perdido em inícios? Não consigo andar mais nesta cidade assim. A minha vida é um drama. Perdi noção dos dias. Quantos passaram já? Em que dia vamos? A minha vida é um drama. Já não sei em que língua sonhar. Não sou capaz de desenhar uma linha reta. A minha vida é um drama. 
(Pausa.)
Volta e meia ensaio este discurso. Como se tudo isto fosse sério. E depois desfaço e comento, como se tudo isto fosse mentira. E depois comento o comentário, como se tudo isto não existisse. E depois desminto o comentário, como se tudo isto fosse a vida. 
Já acabei. Recusei os leitores. Não lhes falei ao coração. Perdi as histórias a meio. Procurei a possibilidade, ou seja, a finalidade, mas sem convicção. Dediquei-me a demasiados caminhos. Estou perdido. E ninguém suporta um escritor perdido. São tantas da manhã e eu ando à deriva. Atravesso as tempestades como quem encolhe os ombros. Nada importa. Bati no fundo da ficção. Afoguei-me. E inchei. Aumentei o tamanho e tornei-me grotesco. Ninguém quer olhar para mim. Viram-me as costas como quem vira uma página. O leitor quer ler outra coisa. Quer saber se vamos chegar a algum lado. Quer saber mais de Berlim. Quer estar a par. Quero entrar dentro de ti. Quero saber se estás bem. Quero cheirar os teus cheiros. Quero saber o que comes. Quero ver o parque. Também quero ir ao café. Quero nomes, dados concretos, estações de metro. 
(Pausa.)
\. l ppppok7´\ 

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